Ontem levei a minha mãe à praia. Assim de repente, poderia citar 256 coisas que prefiro a me levantar às 9h da manhã de um sábado, mas como já não suportava ouvi-la dizer que “nunca vamos a lado nenhum juntas”, cedi.
Depois de me artilhar o porta-bagagens com toda a espécie de utensílios e acessórios que não chegaríamos a usar, lá partimos em direcção à praia.
Pelo caminho, falámos de tudo menos das coisas que realmente interessam; a vida alheia é tão mais fácil de dissecar que a nossa...
Toalha estendida, protector devidamente aplicado e eis que começa.
Primeiro lança-me aquele olhar melancólico à Princesa Diana.
“O que foi?”.
“Nada…”.
Aconchego-me e preparo-me para tentar voltar a adormecer.
A minha mãe suspira.
Eu abro um olho, expectante.
“Ó filha… mas tu até és jeitosa e já namoraste com tantos rapazes!”
Respiro fundo.
“Outra vez esta conversa, mãe? Pensei que já tivesses superado isso…”
“Não fales assim com a tua mãe! E quando é que tomas juízo nessa cabeça?”
Apoiada num cotovelo, permaneço impávida, mas não serena.
“Que futuro é que pensas que vais ter, filha? E não é nada contra a L., é uma rapariga com cabeça, não tenho nada a dizer. Mas a vida não é cor-de-rosa!”, gesticula.
Eu olho o cigarro que lhe dança entre os dedos.
Já há seis meses que não toco num. Sabia-me bem agora, just to take the edge off...
“Acho que me cabe a mim escolher os tons com que pinto a minha vida…”, respondo com uma voz mais calma do que realmente estou.
Ela abana a cabeça e mergulha em Dostoiévski.
“Também não é preciso me odiares…”, tento meter água na fervura, mas ela interrompe-me.
“Deixa de ser palerma, Maria Isabel. Saíste de dentro de mim, tu e o teu irmão são o que tenho de mais valioso!”, dispara peremptória.
E eu sorrio.
1 comentários:
E eu sorrio também... :)