Singularidades de uma rapariga loura

A minha mãe tem o hediondo hábito de me ligar cedíssimo aos fins-de-semana. Ela simplesmente não consegue perceber que as pessoas normais gostam de dormir até mais tarde aos sábados.

Hoje, quando o telemóvel tocou, não senti o ódio a borbulhar, mas sim uma paz e uma satisfação indescritíveis ao sentir um corpo colado ao meu...

Mãe: "Bom dia, filha!"
Eu: "Bom dia..."
Mãe: "A L. fez boa viagem?"
Eu: "Sim, correu tudo bem..."
E, sem aviso prévio, eis que ela salta com:
"Então e dormiste bem? Tiraste a barriga de misérias?"

Até aqui, as respostas surgiam em modo automático, mas quando ouvi isto fiquei logo desperta. Pode não parecer nada de especial, mas a minha mãe não fala assim. Nunca usa trocadilhos de carácter sexual, acha de extremo mau gosto. Não é que ela seja uma puritana, mas ouvi-la falar assim é completamente inédito para mim.

Para não dizer que ela prefere pensar na minha namorada como minha amiga e continua a acreditar que o facto de eu estar com uma mulher é capricho meu e que vai passar com o tempo. Como a minha mãe não bebe e eram nove da manhã, pensei que tinha ouvido mal...

Eu: "Desculpa?"
Mãe: "Mataram as saudades?"

Ok. Agora que eu estou longe, ela finalmente percebe que ela é minha namorada e não minha amiga...

Eu: "Hum... Sim. Foi agradável".
Sim, eu disse "agradável"! É exactamente uma palavra que a minha mãe usaria, esta inversão de personalidades é assustadora!
Mãe: "Então não vos chateio mais. Divirtam-se e namorem bastante".
Eu (com voz trémula): "Ah. Pois. Claro! Obrigada. Tchau!".

Desliguei o telemóvel ainda em choque e senti o abraço a apertar-se mais um pouco.
Ela: "Era a tua mãe?"
Eu: "Sim... Ela disse para namorarmos muito..."
Ela riu-se, afundou os lábios no meu pescoço "E vais ser uma menina boazinha e fazer o que a mamã diz...".

Oh, well...