Ó gente da minha terra...
10/17/2007 12:08:00 da tarde | Author: Isa
Ainda a recuperar de um fim-de-semana memorável

Chegar à minha cidade em pleno Outono, sair do avião e encontrar uma noite de Verão... O nosso país é um pedacinho de Céu, acreditem.

“Ai filha, estás tão magrinha!”.

Não estou. Tenho abusado da junk food, o que me vale é o jogging. A comida inglesa ainda não me conquistou ( os scones da pastelaria aqui do lado).

No sábado à noite, jantarada com os amigos. O jantar foi animado, regado a muita vinhaça e a muito disparate como é hábito e costume.

Mais tarde, fiz birra e quis ir até ao Bairro Alto. Tinha saudades daquelas ruelas tortas, das caras que se encontram invariavelmente nos mesmos lugares. Ainda deu tempo para encontrar o meu professor de Técnicas de Marketing ainda mais bêbado do que eu. Pagou-me um pontapenakona no Arroz Doce e tudo. Fofo.

Mas o momento mais belo da noite aconteceu na ida para o Indochina. Eu nem sabia que tinha reaberto, fiquei toda contente e obriguei toda a gente a ir para . Como não estava em condições, a namorada assumiu o volante do meu Speedy Gonzalez e fomos.

Operação Stop na 24 de Julho.


Eu
: “Vão-nos mandar parar!”.

Ela: “Não vão nada!”.

Eu: “Duas gajas num carro, é óbvio que vão!”

Ela (sorrisinho entusiasmado): “Vistas as coisas por esse lado…”


Fomos paradas, obviamente. O senhor agente sorria com todos os dentes que tinha na boca. Achei que era boa educação.


Polícia: “Ingeriu alguma bebida alcoólica?”

Ela (depois de me mandar um olhar de desprezo): “Eu não bebo”.


Ganhou um olhar de aprovação do agente e outro sorriso.


Polícia: “Ah, mas este carro não é seu…”

Ela: “Não, não, é aqui da minhaamiga”.

Eu: “É meu!”


Polícia com olhar embevecido para o frondoso decote da minha menina:


Pois, eu estava a ver que a morada não batia certo…”. Sorrisinho maroto.

Ela: “Desculpe?”.

Polícia: “Mora na Rua X, certo?”

Ela (a olhar para mim, com medo): “Hum, sim…”.

Polícia: “Somos vizinhos! Vejo-a a passar quase todos os dias, por volta das 8h30m!”. Sorriso Pepsodent.

Eu (a meia-voz embora ela diga que foi quase aos gritos): “O gajo tá-te a galar à grande!”

Ela: “Ah, simeu costumo ir a essa hora para o trabalho. Hum… está tudo bem?”.

Polícia (com ar aparvalhado): “Sim, está tudo bem, obrigado!”

Ela: “Com os documentos, digo…”

Polícia (cara de quem acordou do sonho): Ah! Sim, sim. Hum, falta ver o colete e o triângulozinho!”. Outro sorriso pateta.

Eu: “O triângulodebaixo da roda!”. Da única vez que precisei daquilo, demorei quase meia hora para o tirar


Ela insistiu para que eu não saísse do carro, mas como não achavam a alavanca, fui eu. A caixa do carro estava um caos, partes trocadas de biquini, protectores solares e toalhas


Achámos o raio do triângulo e com muita pena do senhor pudemos “prosseguir marcha”.

Chegada ao Indochina, uma hora depois.

Amigo (bem na frente do porteiro): “Finalmente! Não podiam esperar até irem para casa?”.

Por norma, detesto domingos. Não é só por ser o último dia de fim-de-semana, vem mais de trás. Noutros tempos, eu era obrigada a ir à catequese e à missa, depois do tradicional almoço à dos avós.

Mas este domingo até correu bem. Admito que sou a 'menina do vovô'- isto de ser a única neta tem algumas vantagens- e eu já estava a morrer de saudades dele. Mostrou-me umas fotos nossas de quando eu era bebé que eu nunca tinha visto. Fez-me uma moldura toda janota e a foto já tem lugar na secretária.


A minha avó e eu nunca nos demos muito bem. Católica fervorosa, nunca concorda com nada do que eu faça. E nem é só por eu namorar com uma rapariga. Quando eu estava com homens, era a mesma coisa. Só que agora é pior. Mas como já não me via há algum tempo, não ficava muito bem não me falar e eu alinhei na hipocrisia e somos-uma-família-tão-perfeita-não-somos?

Mesa cheia. Somos 23 quando nos juntamos todos.

Ainda nas entradas, vovó dispara:

"Já arranjaste um inglês por lá, filha?".

Toda a gente a olhar para mim.

Oficialmente, eu só contei aos meus pais sobre gostar de mulheres. Oficiosamente, o meu irmão contou à família toda mas todos fingem que não sabem. Ridículo, eu sei.

Mordo a língua para não dizer o que me apetece. A minha mãe pisca-me os olhos e dá-me pontapés debaixo da mesa.

"Não. Não estou à procura de ninguém...", digo com o ar mais zen possível.

"Com a tua idade eu já tinha 3 filhos... Já vais tendo idade para assentar... Casar, ter filhos...".

"Hum, não sei. Isso é muito tradicional para mim. Afinal, tenho de defender o título de ovelha negra, certo?".

Biqueirada debaixo da mesa, seguido de um "Ó R., passa a salada à tia, se faz favor!".

Alguém começou a falar na Selecção e todos se atropelaram para dar uma opinião e apesar de tudo, eu senti-me realmente em casa.

A minha família não é perfeita. O mundo não é perfeito. Eu não sou perfeita.
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1 comentários:

On 17 de outubro de 2007 às 13:39 , Anónimo disse...

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