Arrasto-me até casa, atiro a mala para debaixo da cama. A ideia de viajar muito sempre me fascinou, mas não há nada de glamuroso no monte de roupa permanentemente enrrugada.
Ligo para casa na esperança de conseguir falar com a minha mãe, ouvir o meu pai a assobiar no fundo as canções de sempre.
"Tou?".
"Olá! Sou eu..."
"Ah. Olá. Tudo bem?"
"Sim, tudo! E tu?".
"Tudo".
"Hum... Os pais estão?"
"O pai foi à da avó L. A mãe ainda não veio da faculdade".
"Ah, ok..."
"Pois... Hum... Mas eu digo que tu ligaste".
"Tá bom"
"Ok..."
"..."
"..."
O silêncio sempre me incomodou. Em chamadas internacionais existe a agravante financeira...
"Ó C., isto é muito triste".
"Hum... O que é que é triste?".
"Nós. Não falamos sobre nada, nunca. Não tenho mais nenhum irmão e não sei nada sobre ti".
"Ah, a gente não fala muito, mas...".
Eu, já embalada "Por acaso sabes qual é a minha cor preferida?".
"Hum... Azul?"
"Não. Já viste, por este andar quando os pais morrerem, nunca mais falamos um com o outro. É um bocado triste".
Ele, super atrapalhado "É pá não digas isso! Nós somos diferentes. És totalmente diferente de mim, sempre foste. É normal as pessoas identificarem-se mais com umas...".
"Sou diferente? Eu quero as mesmas coisas que as outras pessoas...".
"Tu estás bem?", pergunta ele timidamente.
"Não".
"Hum... Então o que se passa?".
Agora sou eu, encavacada "Não sei se queres ouvir. Não sei se consigo falar contigo sobre isso...".
"Ok".
"Mas obrigada por perguntares. Eu ligo mais tarde, então".
"Ok. Fica bem. Beijinhos".
"Beijinho".
5 minutos depois, recebo uma SMS dele, a primeira vez desde que estou em Londres.
"Tens razão. Eu gosto muito de ti, isto é tudo muito estúpido. Acho que no fundo tenho inveja de ti, da forma como lutas para ser feliz. Adoro-te maninha**".
This entry was posted on 2/01/2008 07:32:00 da tarde and is filed under
Desabafos
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1 comentários:
Eu sempre desconfiei que o meu cunhadinho era uma pessoa iluminada :P
Te quiero**